FTSL um guri na capital

Evento de Software Livre em Curitiba

Posted by Torto on September 24, 2014

Após de muito escrever em meu Facebook e brigar com minhas convicções políticas resolvi criar vergonha na cara e escolher outro meio para me comunicar com meus amigos, eis o porque de estar escrevendo aqui e você lendo.

Gostaria de iniciar meu post descrevendo um pouco sobre o evento em que fui nesse fim de semana passado, foi mais um evento em que fui com a cara e a coragem e sem medo de ser feliz, sozinho e sem conhecer quase ninguém por lá.

Eventos de Software Livre são sempre uma experiencia enriquecedora, que me deixam extremamente feliz por ser algo que acredito, sigo e ajudo a construir, com o objetivo de efetivar um mundo mais igualitário (mesmo não entendo ao fundo o poder dessa palavra).

É muito costumeiro para as pessoas que utilizam ou seguem a "filosofia" do SL estar sempre em voga o termo "liberdade", na licença GNU está lá as quatro(4) liberdades, mas será que sabemos mesmo o que isso representa em nossa vida? Será que boa parte da galera consegue entender que o conceito de liberdade deve estar na vida e não somente na tecnologia?

Sou uma pessoa muito radical, eu confesso, e que por muitas vezes passo a impressão de ser intransigente ou um completa babaca, mas garanto a vocês, penso o mesmo de pessoas que não conseguem ser um mínimo politico na vida. Com o SL não é diferente, sou extremista, chato, apoiador, incentivador, amante daquilo que realmente acredito ser correto e melhor para um sociedade mais justa.

Declaro que até hoje não consegui entender, vivenciar e muito menos definir o conceito de liberdade, o mais próximo a ela é a definição de um dicionário “Estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral.”.

Não sei se perceberam mas até agora não falei nada do evento, tudo isso tem alguns porquês, e que alguns desses porquês me deixaram muito triste (com muita raiva) e outras extremamente feliz. Cheguei no evento próximo das 6 horas da manhã da quinta, único horário que o ônibus sai de minha cidade, fiquei então por horas dentro da UTFPR lendo junto ao seguranças da universidade.

Momento em que fico sozinho esperando algo me fazem pensar na vida, momento aquele que estava frente ao campus principal de minha universidade, a qual meu pai é professor, num evento que me enche de alegria, próximo a palestrar nele e tudo isso devido minha competência, vontade de desbravar o mundo e as minhas barreiras pessoais.

Acho que nunca escrevi alguns dos motivos de gostar tanto de SL, ele me lembra muito a minha infância, a qual devo agradecer muito aos meus pais, pois eles me proporcionarem estar junto a esse mundo da tecnologia. Papai foi professor por muitos anos na UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) e lembro claramente de um dia em que ele estava cheio de ansiedade para ir no clube chamado “Assemib”, estava acontecendo um evento de tecnologia (Latinoware), qual ele falava com entusiasmo que o evento era o EVENTO da América Latina de tecnologia, onde estavam os melhores profissionais.

Ao chegar no evento lembro-me da quantidade de computadores na mesa e as pessoas ajudando umas as outras com seus linuxs, fiquei fascinado com tudo aquilo (Obs.: estou chorando de alegria ao escrever isso), o mais incrível aconteceu nos momentos seguintes, eu uma criança, lá era mais do que isso, era um potencial usuário Linux, foi quando pedi ao meu pai para poder exprimentar o que de fato mudou minha vida, o amigo de meu pai (que não me lembro o nome mais era dos olhos puxados) prontamente me colocou num computador e lá estava eu perdendo a virgindade com o Linux e o mundo do SL.

Após muito pensar sobre a vida e o que o FTSL representava para mim, li mais um pouco meus livros, até as nove horas chegar, em seguida participei do minicurso com o titulo “Assim na terra como no shell”, um tanto conhecido pela galera que frequenta os eventos, achei ele muito bom e o palestrante muito divertido.

A próxima palestra a qual fui era sobre jogos mobile em SL, mega ansioso para aprender algo novo, mas no fim a palestra resultou numa completa piada, o senhor palestrante me parecia algum patrocinador do evento, e o amigo não sabia a diferença de SL, Open Source e software grátis, muito menos a diferença de Copyrigth e Copyleft. Ainda ele se pagando de bomzão o amigo falava mal de Java e dizia que C# era a melhor linguagem, sim meu amigo, além de apoiar uma linguagem fechada ao extremo ele ainda compara linguagem que mudam muito pouco uma da outra, é meu amigo…

Depois dessa palestra assisti muitas outras sobre PHP, linguagem qual minha pessoa sabe o mesmo tanto que a estrutura ribossômica da pulga do elefante albino da africa subsariana, no “todo” a palestra que achei mais interessante foi dada para as únicas duas pessoas que estavam presente na sala, eu e um senhor mais de idade, foi sobre o ensino da lógica e programação para crianças no município de Cascavel-PR, a metodologia que utilizam para ensinar as crianças é com o uso do aplicativo/linguagem Scratch, adorei a troca de conhecimento, o compartilhamentos de nossas angustias, superações e anseios.

Como todos sabemos eventos desse tipo são para trocar conhecimento, para isso não há lugar melhor que o boteco, garanto que a vontade de criar esse blog é justamente pela emoção de conhecer novas pessoas e não de conhecer novas tecnologias (sim sou sincero), tive o prazer de conhecer uma galera muito gente boa de uma empresa chamada Taller de Florianópolis, empresa essa que incentiva seus funcionários a darem palestra pelo Brasil, bem como uso do SL <3.

Ainda tive o prazer de rever minha mãezinha que mora em Curitiba, fui ainda a Lapa uma cidade ao lado de Curitiba, onde vive a família de meu pai, vozinha não anda bem de saúde e fui fazer meu papel de neto, tentar passar um pouco de amor, mas confesso que não lido bem com gente doente :(, não sei lidar muito bem com toda situação.

Na volta para casa tive uma conversa com minha mãe, na minha fala comentei algo que fiquei pensativo, comentei algo parecido com isso “nós fazemos oque bem entendemos da nossa vida”, e minha mãe no momento discordou, porém o argumento dela foi muito raso e meio infantil. Hoje ao ler um texto ele me trouxe a resposta a angustia que me deu com toda essa conversa, o texto diz exatamente isso:

"Os trabalhadores(Nós), portanto, por força do trabalho alienado, são imersos em circunstâncias novas originadas ou influenciadas pelo modelo da divisão do trabalho que definem as relações sociais e políticas na sociedade. Sendo que as "produções das ideias, das representações e da consciência está, antes de mais nada, direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens; é a linguagem da vida real.

Com isso Marx conclui (1979, p. 51) que "não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência"

Um texto que cita Marx sempre me agrada, não sou nada marxista ou qualquer coisa que se possa rotular, mas vou de encontro com a ideia de alienação causada pelo capital, e pude concluir após um fim de semana cheio de aprendizado que NADA SEI E NADA SABEREI.

E ainda o termo liberdade está longe de ser alcançado e ouzo dizer que na sociedade em que vivemos a liberdade é algo utópico ou totalmente longe de nossa realidade, lembro a vocês que não estou entrando no mérito das lutas de classes, onde a falta de liberdade pode ser visto com mais clareza.

O mundo da tecnologia é rodeado de dinheiro e contradições, ao assistir a palestra do amigo amante do C# entendi que essas contradições são muito maiores que o meu mundo, amigos e professores universitários, o problema está no capital, onde o trabalho deixa de ser algo essencialmente do homem e confirmação de si para se tornar algo forçado, um sacrifício de si e mortificação, percebe-se isso na seguinte frase de muitos amigos de profissão “É isso que paga meu salário”. Tive a noção que estamos refém do capital e de toda falta de liberdade que ele nós trás.

Mesmo sabendo de tudo isso sou um esperançoso, vou continuar a lutar pela liberdade que espero, se me acomodar ao saber de tudo isso me torno refém e incentivador daquilo que não quero, mudar o meu meio é que pretendo, sei que muitas vezes afasto ou espanto as pessoas com esse meu jeito desbocado de ser, mas faz parte do amadurecimento ou nunca mudarei mesmo ;).

Se depender de minha pessoa o “movimento” do Software Livre nunca morrerá, porque nele eu encontro a liberdade, que em outros movimentos são apenas utópicos, mesmo se adaptando ao mundo capitalista, em minha profissão é o mais perto que posso chegar de um mundo mais igualitário ou um pouco mais justo.