Tchê Mobile e um tanto sobre liberdade

Posted by Torto on October 2, 2014

Olá amigos, nesse fim de semana (27/10/2014) estive em Porto Alegre para um evento chamado “TchêMobile”, de início já começo afirmando que foi um dos melhores eventos que tive o prazer em participar, primeiro pude conhecer algumas das pessoas que mais admirava na minha área e ainda conheci muitas outras pessoas novas <3.

O evento foi realizado pelo grupo GuMobile, que é específico em compartilhar e promover eventos de mobile no Rio Grande do Sul. A esse grupo destino os meus agradecimentos, especial à algumas pessoas muito queridas como a Cynthia Zanoni, Morvana Bonin, Luiz Rauber e Rodrigo Water; obrigado pela oportunidade, alegria de suas companhias e seus ensinamentos para com essa pessoa que vos escreve.

Vivo em uma cidade chamada Pato Branco, que fica no sudoeste do Paraná, bem na divisa com Santa Catarina, mas mesmo não sendo tão distante do Rio Grande é muito tempo de viagem até lá, então o grupo se esforçou para que eu pudesse ir de avião, que confesso para vocês, não é uma tarefa tão fácil assim.

O aeroporto mais próximo fica em Chapecó - Santa Catarina, algo em torno de quatro (4) horas de ônibus da minha cidade, ou seja, qualquer viagem que eu faça, para conseguir pegar o avião leva no mín. quatro (4) horas. Mas só isso, todos perguntam..?? Não meu “queridiz”, eu respondo!

Existe, por dia, três aviões da Gol que saem de lá, o primeiro as 9 da manhã, o segundo as 3 da tarde e o último a noite. De Pato Branco para Chapecó só tem ônibus as 5:50 da manhã que chega as 9 lá, outro as 10 da manhã que chega as 3 da tarde lá, ou seja, preciso pegar o avião das 3 e sair com o ônibus das 5:50 de Pato.

E como comentado no post passado, sempre quando estou a esperar alguma coisa é quando minha mente borbulha de pensamentos e vontades de mudar minha vida (sempre para melhor), foi em mais essa viagem que pude afinar, ainda mais, meu pensamento e, digo, que a cada momento construtivo como esse ando me tornando alguém melhor e mais forte.

O início de meus pensamentos foi devido a uma conversa que tive na minha universidade com um amigo, que tem ânsia por ganhar dinheiro, ou tentar ficar rico, parei para refletir sobre qual o motivo dessa ânsia, ou do por que nossa sociedade é movida a isso?

Refletir me levou a vários questionamentos. Quero deixar claro, não sou alguém que não gosta de ganhar dinheiro ou não tenta alcançá-lo, gosto apenas de ganhar meu dinheiro fazendo algo que realmente acredito.

Mesmo falando sobre capital financeiro, senti a necessidade de entender melhor como ele surge ou o que é o capital, segundo minhas breves pesquisas, a moeda surgir por volta de três mil anos atrás, o gado era trocado entre as pessoas e em certo momento o gado passa a ter valor de moeda. Algo que poucas pessoas entendem é a diferença entre moeda e capital. Friedrich Engels, em seu texto Anti-Dühring, de 1877, explana com muita clareza essa diferença. Antes de lê-lo não sabia, com muita clareza, seu real significado.

“Marx prossegue, então, no estudo dos processos pelos quais a moeda se transforma em capital; verifica, inicialmente, que a forma sob a qual a moeda circula como capital é a inversão exata da forma sob a qual ela circula como equivalente geral das mercadorias. O simples possuidor de mercadorias vende para comprar; vende aquilo de que não tem necessidade e, com o dinheiro obtido, compra aquilo de que tem necessidade. O capitalista incipiente começa por comprar aquilo de que ele próprio ‘não tem’ necessidade; compra para vender, e para vender mais caro, para recuperar o valor dinheiro primitivamente aplicado na compra e, mais ainda, para recuperá-lo acrescido de um excedente em dinheiro, que Marx denomina de mais-valia.”

Nesse texto podemos perceber que o exemplo citado é sobre o senhor detentor de capital, ou dono dos meios de produção, aquele que se apropria da mais-valia para poder acumular cada vez mais. É nessa atividade que me encontro como “força de trabalho”.

No texto ele explana ainda sobre o termo “força de trabalho”. Através dessa colocação começo a entender um pouco os dias de hoje e como isso se reflete na vontade monstruosa das pessoas em ganhar dinheiro, no texto ele diz:

“[...] o ‘trabalho’ como tal não pode ter um valor, não é esse, de maneira alguma, o caso da ‘força de trabalho’. Esta recebe um valor desde que se torna ‘mercadoria’, como o é hoje, de fato; e esse valor é determinado.”

Ou seja, o trabalho hoje deixa de ser algo que dignifica o homem para ser tornar uma simples mercadoria, a qual eu, como integrante dessa sociedade, não posso fugir, infelizmente. É preciso entrar nesse processo de mercantilização do meu bem mais precioso, meu conhecimento e trabalho.

Calma meu amigo, amante do capitalismo, não estou militando em favor do socialismo, só exteriorizando meu sentimento sobre o sistema, não venham com comentários medonhos em defesa da sua sociedade de classes perfeita. Obrigado!

É com a intensificação da mais-valia e da obrigatoriedade em tornar nosso trabalho em “força de trabalho”, que nós, trabalhadores, estamos desprendidos e desconexos dos produtos ofertados pelas organizações em que trabalhamos. Tornamos algo que adquirimos com a vida, como conhecimento e o amadurecimento, numa mercadoria. Assim, por muitas vezes (para não dizer sempre), consideramos o nosso ganho desvalorizado e, ainda, por falta de conhecimento sobre o assunto, perpetuamos esse conceito mercantológico do nosso trabalho.

O acúmulo exagerado desse capital traz nossos “amados” chefes, aqueles que lucram através da nossa “força de trabalho”, que é mais barata que nosso trabalho poder valer, isso é, se nosso trabalho pudesse ser quantificado com dinheiro, nesse cenário surge a diferença de classes, onde temos o explorador da mais-valia e o explorado, esse último somos nós, trabalhadores.

Eis que então começo a entender o porquê de muitas pessoas buscarem incansável e incessantemente por dinheiro, a classe dominante hoje é justamente aquela que acumula mais capital, quem é explorado sonha em subir socialmente e quem é dominante morre de medo em descer (pobre do Eike Batista. SQN).

Esse contexto faz com que nós trabalhadores, que vendemos nossa “força de trabalho”, sejamos, tantas vezes, descontentes com o que ganhamos ou com o que possuímos. A insatisfação é “quase” uma característica intrínseca da natureza do explorado. Ao entender tudo isso, que me deixa satisfeito e ao mesmo tempo revoltado (mas não tanto), satisfeito por consegui entender como o sistema se concretiza e revoltado por tudo isso ser assim.

Por saber isso questiono e tento viver de uma forma menos exploratória, novamente venho afirmar que meu problema não é com a moeda, ou seja, adoro ganhar dinheiro, porém o acúmulo desse capital traz muitos problemas a nossa sociedade e a nós como humanos.

Em minha vida considero que o SL uma alternativa contra essa corrente do acúmulo do capital, mas lembre-se que SL não é socialista ou comunista, como muitas das pessoas falam por aí, mas é criado e desenvolvido num sistema complemente diferente do que o modelo capitalista prega.

Esse é mais um dos motivos que me motivam a utilizar o SL, é sabendo que através dele consigo ganhar dinheiro com meu trabalho e ainda assim ir contra o acúmulo de capital, acúmulo esse que gera muitos dos problemas sociais que conhecemos hoje. Numa entrevista com o Deputado Jean Wyllys, no canal do youtube do Rafucko, que perguntou o que é ser de esquerda hoje em dia, a resposta do deputado foi mais que perfeita e, exemplifica o que acredito: ser de esquerda é lutar contra as injustiças sociais e a favor das liberdades!

Tudo isso é muito lindo né meus amigos? Sim, sei que respondeu isso, mas também se perguntou, e na vida real como você vai viver com todos esses conflitos? ENTÃO, tive o prazer de conhecer melhor a amiga Morvana, e nossa conversa me fez refletir justamente sobre isso.

Ela, em algumas de suas colocações, me fez pensar na minha família, na qual 90% dos meus tios não tem estudo ou se quer terminaram o ensino médio, como eles conseguirão ter noção de mundo sendo que são tão explorados pela mais-valia, que não tem condições de pensam sobre qualquer coisa próxima a que discutimos nesse texto? E eu como, alguém que tem estudo, deveria ter a obrigação ou o desejo de ajudar eles com minha força de trabalho mais remunerada.

Eis aí que entra todo meu conflito, a melhor opção é tentar ganhar o máximo de dinheiro possível para ver se consigo dar uma vida melhor para eles, ou entender que tudo isso que acabei de discutir é lutar contra a mais-valia e a “força de trabalho” que desvaloriza o humano? Eu particularmente prefiro lutar contra essa forma de viver do que entrar nesse modelo exploratório que tanto acho errado, mesmo sabendo que muito dos meus familiares terão uma vida muito difícil.

Como eu, sabendo que justamente a vontade de acumular mais é a causa da vida difícil deles, ao tentar seguir essa corrente estarei sendo o explorador que tanto odeio, pensando justamente somente em minha família ou o meu meio e excluindo toda a sociedade explorada. Mas o que essa minha luta pode mudar o mundo ou o sistema? Pode não mudar nada, mas podem ter certeza que quando eu ficar novamente esperando o avião e minha mente borbulhar os pensamentos que irão surgir serão de alegria e não de covardia.

Não estou criticando a forma de pensar de ninguém, ou muito menos querendo converter as pessoas, mas são os fatos em nossa vida que vão nos formando, lembre-se o diferente aqui sou eu, estou fora da maquina ou ciclo e é normal soar um pouco radical, mas isso tudo é tão natural para minha pessoa que sou feliz sendo assim e espero que você seja feliz sendo da forma que a vida lhe concedeu ser.

Um beijo até a próxima.